Visita Cultural a Tomar - 11.10.2025
Castelo dos Templários e o Convento de Cristo em Tomar. Arquitetura militar e religiosa. Iconologia e simbologia.
Manuel Almeida Carneiro
A 24 de setembro de 2022, no âmbito das Jornadas de Arqueologia na Europa, a que a A.C.E.R se associou, realizámos a nossa primeira visita cultural à cidade de Tomar. Na altura, deparamos com as obras de restauro que estavam em curso no Castelo dos Templários e no Convento de Cristo, pelo que o nosso percurso deambulatório ficou limitado.
Com este novo objetivo, pretende-se fazer uma abordagem histórica da arquitetura militar dos Templários com uma análise sobre a cidadela e o castelo, pondo o enfoque nos dispositivos militares inovadores, como o alambor ou o talude que rodeia os 700 metros da muralha. A Torre de Menagem é, outrossim, um dispositivo inovador, com quatro pisos e 20 metros de altura, com a particularidade de estar posicionada junto da muralha e da porta da entrada, ao invés do que sucedia nos "castelos tradicionais", onde vemos este elemento ao centro. Estas novas soluções militares foram trazidas por Gualdim Paes, que importou elementos defensivos muçulmanos no Oriente para o Ocidente cristão.
Todavia, a grande joia deste complexo militar e monástico é o Convento de Cristo, que alberga a famosa Charola, obra românica do Século XII, com dezasseis faces e planta octogonal no interior. Situa-se sensivelmente no ângulo do edifício de planta centralizada inspirada no Templo do Domini, em Jerusalém. No século XVI, durante o reinado de D. Manuel I, foram realizadas algumas inovações decorativas, ao nível do tambor, sendo dotada de retábulos com pinturas, esculturas e talha em madeira, sendo de destacar os estuques e os guademecis ou guadamencis que são relevos ou pintura dourada feita sobre couro envernizado, para ornamentar paredes e móveis, característicos da cidade de Guadamés; (Teixeira, 1985,127).
Este complexo monástico abrange um conjunto de elementos arquitetónicos de grande relevo, como o Pórtico da Igreja manuelina, obra de João de Castilho, "entre dois contrafortes prismáticos e escalonados, unidos por um arco de asa de cesto com rosetas e encaixe vegetalista, antecedida por uma abóbada rebaixada e polinervada, cujas nervuras têm a forma de cordas" (FALO DE SÁ, 2009, 229). A Sala do Capítulo, com a célebre Janela Manuelina, obra de Diogo de Arruda, agora restaurada, cujo repertório iconográfico e simbólico Manuelino evoca a gesta dos Descobrimentos e com elementos simbólicos associados à Ordem da Jarreteira (pilar direito) concedida por Henrique VIII de Inglaterra, em 1511; o Claustro Principal, também designado Claustro de D. João III, uma obra renascentista de Diogo de Torralva, arquiteto que evidencia as ordens canonizadas de Serlio e Palladio, criando uma composição "de grande riqueza rítmica" (CORREIA, José Horta (2002, p. 34) . Acresce-se, que foi D. João III que incumbiu Frei António de Lisboa a reforma da Ordem que passou a ter um carácter militar monástico sob a Ordem de S. Bento (FALO DE SÁ, 2009, 234-235). Este percurso deambulatório abrange outros elementos dignos de interesse, como o Claustro da Lavagem, o Claustro do Cemitério, que dá acesso à riquíssima Capela dos Portocarreiros (1626), dotada com uma abóbada apainelada e com um rico revestimento azulejar. Daqui temos acesso à Sacristia Nova, com tectos abobadados em berço de caixotões (FRANÇA, (1994, p. 57-58). Os claustros da Micha, de Santa Bárbara, da Hospedaria e dos Corvos são dignos de uma observação atenta, em particular o sistema de abóbadas de cruzaria, bem como as colunas lisas e os capitéis de volutas. Outras dependências são merecedoras de atenção, como a cozinha, com os seus fornos, o refeitório e o extenso Dormitório dotado com um calefatório para assegurar o aquecimento e o conforto dos monges e o horto que bem merecia estar mais bem tratado. Integram este conjunto monástico o Aqueduto dos Pegões Altos, obra de Filippo Terzi – arquiteto-mor do Reino no período filipino (1590). Seguir-se-á o percurso pedestre para chegar à Ermida de Nossa Senhora da Conceição, obra emblemática da Renascença; a Mata dos Sete Montes e a paisagem urbana de Tomar, uma cidade enriquecida com um Património Cultural único.
Audiovisuais:
Les Templiers: La Démesure des Bâtisseurs (Proeza da Engenharia: os Castelos dos Templários). Realização: Simonetta Cerrini, Benoît Renard. Produção: RMC Production, RMC Films, RMC Découverte, Histoire TV, 2022 [RTP2].
Manuscritas:
IAN-Torre do Tombo - Livro 4 da Estremadura, Ficheiro: PT-TT-LN-0020_m0036.jpg
Escritas:
BENTO, Maria José Travassos de Almeida Jesus (2014) – Convento de Cristo – 1420-1521, muito mais do que um século. Tese de doutoramento em Letras na área de História (…). Coimbra: Universidade de Coimbra.
Direção Geral do Património Cultural (DGPC) – Convento de Cristo Tomar. [S.d.] (Folheto desdobrável).
FALO DE SÁ, María (2009) – El Arquitecto Juan de Castillo, "El constructor del Mundo". 500 años de sus obras em Portugal. Santander.
FRANÇA, José Augusto (1994) – Tomar. 1ª Edição Lisboa: Editorial Presença.
INSTITUTO PORTUGUÊS DO PATRIMÓNIO ARQUITECTÓNICO - Restauro - Abóbada da charola do Convento de Cristo (2000). Tomar: Instituto Português do Património Arquitectónico.
CORREIA, José Horta (2002) – Arquitetura Portuguesa. Renascimento, Maneirismo, Estilo Chão. Lisboa: Editorial Presença.
FALCÃO, Lina – "Os guadamecis da Charola do Convento de Cristo", in FRAZÃO, Irene; AFONSO, Luís U. [Coordenação] (2016, p.55-68) - A Charola de Tomar – novos dados, novas interpretações.
FRAZÃO, Irene; AFONSO, Luís U. [Coordenação] (2016) - A Charola de Tomar – novos dados, novas interpretações.
TEIXEIRA, (1985) - Dicionário de Ilustrado de Belas Artes. Lisboa: Editorial Presença.
ROSA, Amorim (1988) – História de Tomar. 2ª Edição. Tomar.
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INSCRIÇÕES
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Fotos de Manuel Almeida Carneiro