Evento Leiria 1890-1950 / Arquitectura e Cultura Urbana - 13.9.2025
A cidade de Leiria constitui um caso singular entre os centros urbanos de média dimensão em Portugal, distinguindo-se pela consolidação de uma cultura arquitetónica própria, alicerçada no trabalho de um conjunto notável de arquitetos, engenheiros e construtores locais. Esta especificidade encontra um dos seus principais catalisadores na instalação de uma escola industrial em finais do século XIX, instituição que viria a acolher, entre o seu corpo docente, técnicos de reconhecida competência, vários dos quais com formação estrangeira. Destaca-se, entre estes, a figura do arquiteto suíço Ernesto Korrodi, cuja atividade docente e profissional teve um impacto determinante na formação de uma linguagem arquitetónica característica da cidade.
A ação de Korrodi projeta-se, desde logo, na formação de vários discípulos e colaboradores que mais tarde fundam os seus próprios gabinetes de projeto e oficinas de construção. Entre eles, assumem especial relevância os nomes de Augusto Romão, Fernando Santa Rita e Ernesto Camilo Korrodi, filho de Ernesto Korrodi. É, em torno destes quatro protagonistas, que se estrutura grande parte do panorama arquitetónico de Leiria entre os últimos anos do século XIX e o início da década de 1940.
A produção arquitectónica destes autores atravessa diversas correntes estéticas, desde as influências da arte nova centro-europeia até aos revivalismos de matriz medieval e barroca, culminando na introdução precoce — em contexto nacional — de uma arquitectura marcada pelo Art Déco, com referências diretas aos contextos suíço, francês e belga. Neste quadro, Leiria afirma-se como um verdadeiro microclima da cultura arquitetónica portuguesa, destacando-se como um dos núcleos mais dinâmicos do período de transição entre a tradição e a modernidade arquitetónica, desde a transição de Oitocentos para Novecentos até meados do século XX.
O percurso proposto contempla alguns dos principais eixos urbanos da expansão da cidade oitocentista e novecentista, bem como zonas do centro histórico que, entre finais do século XIX e meados do século XX, são objeto de redefinição e valorização estética. Pretendemos oferecer uma leitura aprofundada da trajectória destes quatro autores e de outras figuras relevantes para a cultura local, articulando as suas obras com os processos históricos e urbanos que moldaram Leiria no limiar da contemporaneidade.