Dos «pavilhões» do Bolhão ao modelo de mercado e à visão de cidade: quarta 25 janeiro - 18:15

Com os melhores votos para o Novo Ano de 2017, a Campo Aberto, em coorganização com a ACER - Associação Cultural de Estudos Regionais, convida a uma das suas primeiras atividades do ano novo: uma tertúlia (integrada no ciclo Observatório do Urbanismo) em redor de uma petição (ver mais abaixo) que pretende salvaguardar elementos do Mercado do Bolhão que os promotores da mesma, os Arq. Alexandre Gamelas e Catarina Santos, consideram de valor patrimonial, cultural e artístico que deve ser respeitado. Ambos estarão presentes na tertúlia e apresentarão a ideia base da petição, a que se seguirá o debate com os presentes.

A Campo Aberto não tem posição oficial sobre o tema mas considera que o debate sobre ele pode ser enriquecedor e ajudar a formular perspetivas mais claras sobre o modelo de mercado que se pretende recuperar e sobre a visão de cidade que subjaz às diferentes possíveis opções.

A entrada é livre e gratuita mas sujeita a inscrição prévia. Para isso basta enviar para: tertuliasca@gmail.com, até segunda 23 de janeiro, o nome, email e telefone de contacto de cada um dos inscritos (várias pessoas podem inscrever-se num só email, desde que anuentes). Não esqueça de enviar esses elementos sobre cada uma delas.

A tertúlia decorrerá a partir das 18:15 de quarta 25 de janeiro na rua de Santa Catarina, 730-2.º andar, ao lado da sede da Campo Aberto.

Campo Aberto - associação de defesa do ambiente

Sobre o assunto pode ver:
http://p3.publico.pt/cultura/arquitectura/17715/dupla-de-arquitectos-tenta-preservar-barracas-do-bolhao

E o texto de introdução à petição: http://peticaopublica.com/pview.aspx?pi=PT77853, que reproduzimos:

Assistimos no passado dia 22 de Abril à apresentação pública do novo projecto para o Mercado do Bolhão. Felicitamo-vos pela filosofia de intervenção do projecto: uma solução sensata e equilibrada, que respeita o edifício que os portuenses conhecem, actualiza-o funcionalmente e lhe resgata a dignidade perdida ao longo de anos de quase abandono.

Como amantes da nossa cidade e do seu património, deixa-nos contentes ver o exterior do mercado recuperado integralmente, com a reposição das mísulas actualmente reduzidas a rebarbas ferrugentas, das caixilharias das montras com o desenho original, e dos toldos tradicionais com aspecto uniforme.

No entanto, e baseados nos aspectos do projecto que foram levados a público, receamos que haja um elemento esquecido no processo: as chamadas "barracas do Bolhão".

Assim são nomeadas nos desenhos os pavilhões cobertos de apoio aos vendedores no rés-do-chão, e que são contemporâneas com o projecto original do arquitecto Correia da Silva.

São construções desenhadas e detalhadas de raiz, e parte integral do edifício enquanto mercado. Por serem semi-fechadas, prolongam visualmente a rua no interior e conferem ao Bolhão o seu ambiente característico e único, que lembra vagamente um bazar oriental.

Ainda mais interessante é o facto de, dentro do seu aspecto de construção popular, o seu desenho ser fortemente original e uma combinação de elementos aparentemente díspares: colunatas, frontões, arcos de volta inteira e caixilhos de desenho neo-gótico, treliças e respiradouros, que muito raramente aparecem compostos desta forma.

As "barracas" são assim elementos pitorescos mas de um desenho curado, que representam o periodo de revivalismo vernacular do início do séc. XX.

Infelizmente, o seu estado de conservação precário e décadas de acumulação de elementos espúrios impedem-nos de disfrutar de todos estes pormenores. Letreiros, gaiolas, muitas janelas já substituídas por alumínio ou tapumes de todo o tipo, as lonas que escondem os fantásticos telhados de ardósia e os "cobertos" centrais em plástico, por sua vez tapados com lonas ou simplesmente sujos e escuros, tudo isto faz com que estas maravilhosas pequenas construções pareçam prontas para a demolição.

É isto que transparece nas imagens que foram mostradas e através das declarações na comunicação social, que indicam que os pavilhões do Bolhão se preparam para ser substituídas por uma "reinterpretação moderna" que mais não é que um espaço genérico desprovido do carácter peculiar e mágico do mercado actual.

Mais uma vez, só podemos elogiar a vossa filosofia de intervenção no Bolhão e acreditamos que é coerente com a recuperação destas construções.

Acreditamos que a sua reabilitação não compromete, antes melhora, o conforto do espaço e facilita a sua climatização.

Acreditamos também que é compatível com a cobertura dos corredores através de uma estrutura elegante, transparente e contemporânea, semelhante áquela mostrada nas imagens e que já faz parte do vosso projecto.

Assim, pedimos-lhe que considere a inclusão das "barracas" no projecto de recuperação do Mercado do Bolhão. Isto implica:

Que o projecto contemple a recuperação integral das construções existentes, o que inclui devolver-lhes os telhados em ardósia, pintar e reparar as caixilharias existentes e todos os elementos de carpintaria e serralharia, actualizando as infraestruturas interiores.

Que se eliminem os elementos acrescentados, posteriores e sem qualidade, e, tal como no exterior do mercado, se recuperem os desenhos existentes para criar elementos de substituição idênticos aos originais: caixilharias, colunas, telhados, ferragens.

Queremos ter um mercado limpo e funcional, e um mercado que seja único no Mundo, por ser o mesmo mercado que opera no Porto há quase 100 anos. As duas coisas não são incompatíveis, até pelos inúmeros exemplos de sucesso semelhantes em outros países.

Tudo indica que a reabilitação urbana, numa época em que cresce exponencialmente, é uma prioridade que a Câmara do Porto leva a sério, e bem. Existe aqui, assim, uma oportunidade ímpar para dar o exemplo e recuperar com pormenor e qualidade um património único que pertence a toda a cidade.